NOTAS NOTURNAS.

07/12/2011 15:52
 
Ao cair da noite todas as criaturas saem para dançar ao som dos ventos. É nesse momento que o bem e o mal baixam guarda em uma trégua singular. O cair dos pingos da chuva despertam os sentimentos mais conturbados dos seres totalmente noturnos. Dizem que cada gota é uma lágrima da deusa Gaia, que sofre devido à solidão causada pelos séculos.
Se existe um Deus único, então Ele é cruel ao permitir que a imortalidade exista para uns poucos. Nada mais doloroso do que vagar entre os ponteiros das eras sem poder envelhecer um segundo sequer.
A lua se enamora de si mesma como um Dom Juan que não se cansa de se ver diante de seu esplendido brilho noturno. Esse é o momento de ler as tristes letras musicais de Baudelaire:
A música me leva como um mar amargo!
À meu pálido astro,
Sob um teto de bruma ou por éter largo,
Iço a vela ao mastro;
O peito para a frente e os pulmões já inflados
Tal qual uma tela,
Subo o dorso dos vagalhões amontoados,
Que a noite me vela;
Sinto vibrar em mim o papel de paixões
De uma nave sofrendo;
O bom vento, a tormenta e suas convulsões.
Sobre o abismo horrendo
Me embalam. Outra vez na calma ela é o reflexo
De meu ser perplexo
Por fim, descanso ao balanço leve da brisa que agora passa ao meu redor; da tranquilidade que encontra casa em meu ser. Estar vivo não é a melhor das noticias, mas permanecer ziguezagueando entre o céu e o inferno torna a aventura da existência menos monótona. Não tenho piedade daqueles que me torturaram, mas também não tenho compaixão dos que dizem sentir pena de mim.
Quando essa lua sumir... Ai sim... Teremos outro dia para repousarmos nossas angustias e aflições. Sempre haverá outra noite como essa, mas se Deus não permitir que suas gotas naturais sejam usadas, usaremos o líquido que jorra dos nossos pulsos.
por Bruno Coriolano de Almeida Costa

 

—————

Voltar